Ser dragão tupi or not tupi,
ser Dragão tão-só,
tão-somente cuspir fogo
como uma entidade intraterrena,
de dentro, do submundo:
um vulcão,
um deus de dentro,
Hades desse lado de cá – Moloch Infernus Br.
Lisa Alves (Deuses Ruminantes na Terra do Sol)
Por Lisa Alves
Desde o
principio da história da humanidade o entendimento com o meio ambiente caracterizou
a própria aptidão de sobrevivência da espécie, na medida em que existia uma dependência de nossa parte para se alimentar, se abrigar e se defender de possíveis predadores. Havia uma conexão tão forte com o planeta e seus elementos por nossa parte que criamos, naqueles tempos, uma divinização e veneração pela mãe-natureza. Exemplo disso está na antiga civilização
grega, cuja terra, a mãe-natureza, existia em função de seus filhos, tal como
cantava Hesíodo em Teogonia (séc. VIII a.C):
"Gaia de amplos seios, base segura para
sempre oferecida a todos os seres
vivos".
Cabia a nossa
espécie proteger o planeta, a Grande Mãe, cientes que a sua ruína suscitaria na
própria quebra da lógica da vida. E com essa percepção havia uma postura de
união com a natureza – a quem careceria preservar, santificar e honrar.
De modo completamente avesso a essa visão
de mundo vivenciado pelos gregos, deparamos
com a
concepção judaico-cristã que mirava a Terra como uma
propriedade dos homens a quem, conforme a Genesis: caberiam dominar os
peixes do mar, as aves do céu, os
animais domésticos e subjugar a terra.
"Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança.
Tenha ele domínio sobre os animais
marinhos, sobre as aves, sobre os animais
domésticos e sobre os répteis. Domine a
terra toda!”
"Multipliquem, encham a terra e
tenham domínio sobre a terra.
Vocês são os senhores dos peixes, das
aves e de todos os animais.”
O meio
ambiente incidiu, portanto, a ser enxergado como um produto
oferecido aos homens, e não uma fonte divina de vida a qual caberia à dedicação
filial. Por ser oferta de Deus (o único, residente fora do planeta), a natureza
precisaria sustentar os homens e, por sua vez, se submeter aos caprichos humanos.
A humanidade poderia explorar livremente os recursos naturais, pois sendo
presente divino seriam inesgotáveis.
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