quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Cinema, Poesia e Todo Sentimento do Mundo

Eu vejo poesia na arte em movimento e quando vejo espalho e me espelho. Abaixo descrevo essa percepção em três maravilhosos filmes: Histórias que só existem quando lembradas ( Brasil, Argentina, França), A Febre do Rato (Brasil) e E Agora, aonde vamos? (Líbano)




HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRADAS (BRASIL, ARGENTINA, FRANÇA)




Jotuomba um lugar onde Thanatos não cruza há muito tempo, uma cidade onde as recorrências são graciosas (quase graças). O cemitério é solo proibido e impenetrável e cada membro do lugar carrega uma missão notável e insubstituível: fazer os pães, moer o café e apreciar as badaladas da Igreja.


O filme é carregado de símbolos não habituais, não há previsibilidade e nem mesmo uma edição que nos furta a liberdade de senti-lo e de disseca-lo. Para um expectador sensível e atento ele se pinta como um poema desses impossibilitados de uma única interpretação.

Cada cena se apresenta como um alvo de uma bela fotografia, cada fiapo, cisco, pedaço, textura e cor devolve a “nós” uma ternura do que foi, do que estava e do que ainda permanece no mundo intocado pelo “nosso mundo”.

Senti uma saborosa nostalgia ao assisti-lo.

Ano: 2011
Gênero: Drama
Diretor: Júlia Murat





A FEBRE DO RATO 
(BRASIL)




A obra dirigida por Cláudio Assis é um filme de linguagem poética, modela os princípios anarquicos e volve-se em uma canção hedonista (sem dogmas e rituais). A estrutura da película é delicada, a fotografia torna-se linguagem e a poesia tonifica o preto e branco ao apontar as mazelas e casulos de uma sociedade destinada à substituição. A alcunha do filme “Febre do rato” é uma expressão peculiar do Nordeste, que representa “estar fora de controle”.

Recomendo aos apaixonados pela poesia e aos desvestidos de pudores.





E AGORA, AONDE VAMOS?
(LÍBANO)
 



" A história que vou contar é para quem quiser ouvir. 
História de gente que jejua e de gente que reza.
 De um povo isolado cercado por minas. 
As mãos manchadas de sangue em nome da cruz e da meia lua.
 E uma longa história, de mulheres vestidas de preto.”
 

Muçulmanos e cristãos convivem em uma miúda aldeia no Líbano, a vida pacifica entre famílias tão diferentes guarda um segredo escondido a setes chaves pelas mulheres do local.

Et maintenant on va où ? (E Agora, Aonde Vamos?) é um filme da diretora e também atriz Nadine Labaki e arrisco julgá-lo como uma obra prima da sétima arte. Em um tempo não apontado a película trata da arte feminina de provocar a paz, são Penélopes que não aguardam seus Ulisses e sim tecem qualquer armadilha para que Ulisses nunca se vá. Matronas, esposas, donzelas que compreenderam que o conflito em nome de seres invisíveis só devolvem a elas filhos, irmãos, noivos e esposos na horizontal. O que mais fez meus olhos brilharem perante essa sublime e emocionante obra foi o comportamento universal dessas figuras femininas a tal ponto que me fizeram teorizar sobre: “o quanto foi mérito da mulher o vingar de nossa espécie?”

Além disso a obra incorporou vários gêneros do cinema tornando-a uma reprodução fidedigna da realidade, pois na vida, como bem sabemos, gememos e gargalhamos.

Garanto que minhas notas do filme não abordam nem dez por cento do que ele de fato expõe.

Faço uma ponte desse filme com a literatura de Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques) e De volta a Istambul (Elif Shafak). 

E Salve as realidades fantásticas!  



Um comentário:

  1. "E agora, aonde vamos?" é das coisas mais lindas e emocionantes que já assisti. Assistirei também aos outros.

    Beijo.

    ResponderExcluir

Registre sua metamorfose