quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

CARTA A MARTIN LUTHER KING



Lisa Alves

Assim como você eu também tenho um sonho, Sr King. Sonho com um mundo que nenhum ser humano tenha que viver na miséria ou tenha que sofrer humilhações diárias e pagar pena de vida. Dias atrás ao adormecer eu sonhei que Selma era aqui no Brasil – mais precisamente no Rio de Janeiro (nos morros) onde a maioria da classe trabalhadora vive. Aqui Sr. King, ou melhor, lá nos morros, a luta é cotidiana e o sangue tinge o asfalto diariamente. O governo federal e estadual, Sr King, acredita que o crime é um problema de segurança pública, ou seja, Sr King, ninguém tem a decência de falar sobre a raiz chamada desigualdade social e muito menos sobre a mesma ser consequência de um único cidadão ter uma fortuna capaz de comprar um Estado enquanto milhões sobrevivem com um salário mínimo que mal paga a comida do mês. Como você bem deve saber, Sr King, onde há miséria há crime e o primeiro crime já principia pela miséria – e esse primeiro é um crime social, um crime praticado por várias mãos. Voltando, Sr King, os governos daqui não investem em educação e cultura, tudo que é público foi feito para não funcionar e inclusive, Sr King, servem de propaganda gratuita para o setor privado. O cidadão que tem dinheiro, além de pagar impostos, paga uma segunda vez para ter saúde de qualidade, educação de qualidade e morar em um local com segurança privada. E os que não podem, Sr King? Desde que nasci ouço um velho ditado popular brasileiro que é o seguinte: “quem pode, pode e quem não pode se sacode”. Mas aqui a gente se “fode” mesmo. Além desse classicismo no Brasil, Sr King, nós também temos campos de concentração, só que eufemisticamente denominamos de sistema prisional. Ninguém liga, ninguém se assombra, mesmo tendo consciência que as pessoas que entram para o cárcere tenderão a saírem um dia piores: com ódio, com sentimento de vingança, pois nem o gado confinado no Brasil é tratado de forma tão desumanizada.
E o que você tem a ver com isso, Sr King? Para explicar vou voltar ao sonho que tive: sonhei que o senhor estava aqui no Brasil, ainda era vivo e continuava na luta por direitos e oportunidades iguais para todos e em uma de suas aparições públicas o senhor convocou todos os cidadãos que não concordavam com as Forças de Pacificação para subirem a “Selma” (aos morros) e ocuparem até que os governos resolvessem retirar os militares e no lugar da pólvora criar Casas de Cultura (com cinema, teatro e bibliotecas), Escolas de Tempo Integral, Centros Esportivos, Hospitais e instituíssem o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Foi lindo, Sr King, foi um lindo sonho e eu vi vários artistas, escritores, professores, ativistas, estudantes e figuras públicas subirem para as comunidades e montarem o maior acampamento que já existiu nessa terrinha. Foi lindo de ser ver, Sr King.
Não consegui ver o final desse sonho, mas como você pode notar eu também tenho um sonho, aliás, tenho vários e esse foi só o começo de um.

Assistam:

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Cadê a água? O Boi bebeu

Imagem: Agência Nacional de Águas (ANA) da página do PSTU
Lisa Alves

Se não boicotarmos a Indústria e o Agronegócio em breve ficaremos para sempre sem água. Nos tornamos a lavoura e o pasto do mundo. Mais de 80% da carne e dos produtos produzidos no Brasil são para exportação e pouco menos de 20% do que se produz vai para a casa do cidadão brasileiro. Contudo sempre surge aquele argumento: "Mas isso gera renda, trabalho e impostos que são revestidos em serviços públicos." Retirando todo o meu argumento sobre sonegação de impostos, empresas multinacionais utilizarei um só: Ok, mas não teremos água por muito tempo se isso continuar. Para tanta produção não há tempo suficiente para repor a água. Para quem não sabe sou graduada na área ambiental e uma das matérias que mais me chamou a atenção foi justamente "O ciclo da água". Dentro do processo de precipitação e evaporatranspiração há uma elemento chave que são as árvores. As árvores são verdadeiras bombas de água que absorvem a água infiltrada no subsolo e lançam para a atmosfera e esse processo é infinito. Nos últimos anos o desmatamento em nosso território, principalmente na Amazônia, saiu de controle e o reflorestamento em alguns pontos é inútil, pois dentro dos processos da natureza a biomassa é importantíssima e sementes e brotos não cumprem o papel de uma árvore centenária, quem compreende a biodiversidade sabe do que falo e o quanto é grave o desmatamento para todos os sistemas da natureza. 


Leiam um trecho do panfleto escrito por Bill Mollison em 1981:

O que está havendo com as florestas? Nós usamos muito das florestas de uma forma banal: para produzir papel, particularmente para jornal. A demanda tornou-se excessiva. No presente, cortam-se um milhão de hectares a mais do que se planta. Mas isso pode mudar em qualquer mês: no mês passado, por exemplo, a quantidade de árvores cortadas foi o dobro do normal, devido ao desmatamento do baixo Mississipi para introdução de campos de soja. De toda a cobertura de florestas que já houve, não resta mais que 2% na Europa. Eu não creio que haja uma árvore na Europa que não esteja lá somente por causa da tolerância do homem, ou que não tenha sido plantada por alguém. Não há florestas nativas na Europa. E só restam cerca de 8% de matas nativas na América do Sul, e em todo lugar onde multinacionais possam obter possessão de áreas florestais.


A hora é agora!

Conheçam a Permarcultura


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Potencial de energia solar no Brasil


por Lisa Alves 


    O Brasil necessita expandir sua oferta de energia, contudo este procedimento estratégico deve ser adjunto ao desenvolvimento social, econômico e ambiental. As fontes renováveis de energia que fazem parte da matriz energética brasileira alcançam um ideal de desenvolvimento sustentável, todavia o implante dessas fontes é sabotado pela política de suprimento de energia de forma centralizada. Conforme informações do site Portal Energia (2011) a energia solar é efetiva em locais apartados ou de complicado ingresso, pois sua instalação em ínfima escala não requer gastos em amplas linhas de transmissão. Em países tropicais, como o Brasil, a aplicação da energia solar é recomendável em praticamente todo o território, e, em locais distantes dos centros de produção energética seu uso contribui na diminuição da busca energética e consequentemente evita a perda de energia que adviria na transmissão.


            O presente mostra os conflitos sociais e ambientais causados no Brasil através de novas construções de barragens, como Belo Monte, por exemplo. Pensar em uma matriz energética menos causadora de impactos, evitaria conflitos e impactos materiais, culturais e ambientais. Em pleno século XXI o Brasil ainda apresenta áreas sem nenhum tipo de fornecimento energético. Problema que ocasiona a migração de milhares de pessoas para as cidades a procura de emprego, ocasionando o crescimento desordenado das cidades, desemprego, submoradias e impactos ambientais.  E agora com a escassez de água já deveríamos ter projetos aprovados para o uso dessa fonte.



                O Brasil, por ser um país circunscrito em sua maior parte na região intertropical, tem amplo potencial de energia solar durante os seus doze meses anuais. De acordo com informações da Agência FAPESP (2009) o Brasil tem uma competência de geração de energia solar de 200 a 250 watts por metro quadrado, o que é classificado pela agência como um potencial muito superior. Além disso, a agência informa que o Brasil tem o dobro dos níveis de insolação de países europeus como a Alemanha, país esse que domina o maior mercado mundial por gerar mais de 40% de sua eletricidade através de fontes fotovoltaicas. Para o Brasil, as chances nesse setor são promissoras, mas para isso é necessário um grande investimento na capacitação tecnológica e industrial.

            Vantagens: a energia solar é uma energia limpa, ou seja, não polui durante seu uso. As centrais carecem de manutenção mínima. Os painéis solares evoluem rápido, estão cada vez mais potentes, ao mesmo tempo em que seu preço vem decaindo. É um tipo de energia excelente para lugares distantes ou de difícil acesso, pois sua instalação em pequena escala não sujeita a enormes gastos em linhas de transmissão. (PORTAL ENERGIA, 2011)
            
               Segundo Oliva et al (1996) e Faria (2004), a sociedade como um todo se beneficia com a implantação de sistemas fotovoltaicos como alternativa de energia pois:
   
    há o aproveitamento da energia solar, que é uma fonte gratuita de energia, abundante e não poluente; há a contribuição para a preservação do meio ambiente por conservar a energia elétrica, o que pode levar à redução da necessidade de construção de obras de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, que causam impactos ambientais; contribui para a redução das dificuldades para o suprimento de energia e de potência que eventualmente venham a ocorrer no sistema elétrico nacional nos próximos anos e para a diversificação da matriz energética; promove a redução da emissão de gases do efeito estufa e outros poluentes e cria empregos locais diretos e indiretos.

            Desvantagens: as formas de armazenamento da energia solar têm pouca eficiência quando confrontadas aos combustíveis fósseis e a energia hidrelétrica. Outro fator desvantajoso é o rendimento de apenas 25%. (Portal Energia, 2011) Não obstante, os impactos ambientais causados pelas hidrelétricas são em montante superiores as desvantagens na utilização da energia solar. Segundo Leite (2005) a locação de hidrelétricas pode provocar impactos ambientais no clima modificando a temperatura, a umidade relativa, a evaporação, a precipitação e os ventos. 


As energias renováveis, como a energia solar, surgem como resistência a um modelo globalizado que considera mais viável qualquer fonte de energia que possua maior potencial energético e lucrativo e com isso desconsidera os impactos ambientais que aquela matriz energética poderá causar. Todavia, o emprego de sistemas de energia solar ainda está sujeito ao implante de ações de incentivo que auxiliem a superar os obstáculos técnicos, econômicos e de mercado existentes. Algumas medidas já auxiliariam nesse tipo de substituição de matriz energética como: a mudança no código de construção civil, divulgação da tecnologia, cursos de capacitação, pesquisa, metas ambientais e incentivos fiscais para grandes empreendimentos que adotassem esse tipo de fonte energética. Lembrando que a utilização de energia em uma economia capitalista está fortemente associada a um conjunto de questões: incluindo a mitigação da pobreza, o crescimento populacional ordenado, o nível de urbanização, industrialização, saúde, educação, inclusão social e prosperidade econômica da região. Uma comunidade isolada e sem recursos energéticos está condenada ao  êxodo.