Ahn Young-joon/AP |
"Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira?
Fingir ser soldado a tarde inteira? "
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira?
Fingir ser soldado a tarde inteira? "
Soldados - Legião Urbana
Do lado de fora da casa seus
filhos brincam de guerra e ele sorri, não por admiração paterna, mas por
constatar que nada mudara: eles apenas colocam seus instintos de competição
para fora, hoje é apenas uma brincadeira entre eles, amanhã poderão participar
de uma guerra cuja brincadeira pertencerá a outros.
Logo o filho mais velho retruca:
E no papel de apaziguador de conflitos, desenvolve o seu veredicto:
Assim as crianças dão-se por satisfeitas ao saberem que o inimigo não possuí vantagens sobre o outro. O pai sentiu-se mal por iludi-los, mas necessita prepará-los para as falsas verdades do mundo, já que sabe que na vida real serão iludidos da mesma forma. Suas brincadeiras de vida são apenas preparativos para algo que já espera por eles. Lembrou-se de quando era criança e brincava de matar seu melhor amigo com uma espada de plástico e pode sentir mais tarde a mesma sensação da brincadeira quando tirou o melhor amigo de sua convivência. Era como matar de brincadeira, a pessoa física continua caminhando depois, mas em algum momento eles fingem que uma barreira invisível os separou.
Papai veja o tamanho da minha escopeta!
Logo o filho mais velho retruca:
A minha é mais potente do que a
dele!
E no papel de apaziguador de conflitos, desenvolve o seu veredicto:
Meninos as duas são grandes e potentes, as
chances de ganharem são as mesmas.
Assim as crianças dão-se por satisfeitas ao saberem que o inimigo não possuí vantagens sobre o outro. O pai sentiu-se mal por iludi-los, mas necessita prepará-los para as falsas verdades do mundo, já que sabe que na vida real serão iludidos da mesma forma. Suas brincadeiras de vida são apenas preparativos para algo que já espera por eles. Lembrou-se de quando era criança e brincava de matar seu melhor amigo com uma espada de plástico e pode sentir mais tarde a mesma sensação da brincadeira quando tirou o melhor amigo de sua convivência. Era como matar de brincadeira, a pessoa física continua caminhando depois, mas em algum momento eles fingem que uma barreira invisível os separou.
Não entende o que leva a vida não
ter um final, uma conclusão e algo fixo. Tudo precisa sofrer a presença de
surpresas, a humanidade adora isso, é como uma criança que finge que não
sabe qual o presente que o Papai Noel deixou ou como alguém que manda flores
para si mesmo e emociona-se quando o florista bate à porta. Uma vez conheceu um
sujeito que mandava presentes para si mesmo e cada vez que fazia isso inventava
um remetente diferente – observando a forma que o sujeito encontrou para driblar
um cotidiano morno e sem emoções percebeu que todos ao seu redor faziam o mesmo
e tudo isso não passava de uma brincadeira que envolvia o comprometimento de
toda à humanidade: a brincadeira de matar a mesmice. Ela funcionava assim:
todos fingiam que as formas, palavras, sentimentos, pessoas, objetos, atitudes
eram novos e criavam palavras chaves para a brincadeira funcionar (a última
sensação do momento, a nova criação, a nova era, a moda atual, o novo estilo de
vida, a mulher moderna, a era tecnológica, transgênicos, doenças
contemporâneas, gênoma humano, sexo virtual, nanotecnologia...), palavras que
abrem as portas de uma fantasia mascarada de realidade. Palavras que se
ritualizam inconscientemente na mente humana e contribuem para a transformação
do velho no novo, do passado no presente e o surgimento do previsível.
Lá fora as crianças continuam a brincadeira de guerra e lá
dentro ele morre aos pouquinhos como se nunca tivesse morrido aos pouquinhos
antes. Cumpre o seu papel como a maioria que ele tanto subestima. A única
diferença é que ele não está acordado para ver e nem para se negar a brincar.
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